A escolha do filtro afeta diretamente a aparência e a exposição da imagem
Os filtros infravermelhos são essenciais para bloquear a luz visível e permitir que apenas a radiação IR alcance o filme..
Filtro R72 (720 nm) – O mais utilizado, bloqueia a luz abaixo de 720 nm e oferece um efeito infravermelho intenso com tons dramáticos.
Filtro 89B (695 nm) – Menos intenso que o R72, permite um pouco mais de luz visível, resultando em um equilíbrio entre tons naturais e efeito IR.
Filtro 87 (800+ nm) – Bloqueia completamente a luz visível, captando apenas a luz infravermelha mais profunda, criando imagens extremamente surreais.
Filtros Vermelhos Profundos (25A ou 29) – Podem ser usados com filmes parcialmente sensíveis ao IR, como o Ilford SFX 200, para criar um efeito infravermelho moderado.
Cada filtro reduz a quantidade de luz que atinge o filme, exigindo compensação na exposição. O ideal é fazer testes com diferentes tempos de exposição, já que fotômetros tradicionais não medem corretamente a luz infravermelha.
Iluminação e ambiente: melhores condições para capturar imagens dramáticas
A luz disponível influencia diretamente o efeito infravermelho. Algumas condições são ideais para realçar o contraste e o impacto visual das imagens:
Dias ensolarados com céu azul – O infravermelho reflete melhor nas folhas e na vegetação, criando o clássico efeito branco brilhante contra um céu escuro e profundo.
Horários de pico de luz (meio-dia) – Diferente da fotografia convencional, a fotografia infravermelha se beneficia da luz intensa do meio-dia, já que a radiação IR é mais forte.
Cenas com vegetação abundante – Plantas refletem muita luz infravermelha, resultando em um efeito brilhante e etéreo.
Água e superfícies escuras – Esses elementos absorvem luz infravermelha e aparecem quase pretos nas imagens, criando um contraste dramático.
Neblina e dias nublados – A fotografia infravermelha pode gerar resultados inesperados em dias nublados, com tons misteriosos e um visual mais suave.
Explorar diferentes condições de iluminação e cenários permite criar composições únicas e maximizar o efeito visual característico da fotografia infravermelha com filme
Revelação e pós-processamento
A fotografia infravermelha com filme não termina no momento do clique. O processo de revelação e pós-produção exige cuidados específicos para preservar os detalhes e destacar as características únicas das imagens capturadas no espectro infravermelho. Desde o manuseio correto do filme até a digitalização e edição, cada etapa é crucial para garantir resultados impressionantes.
Cuidados ao manusear o filme: proteção contra luz e temperatura
Os filmes infravermelhos são mais sensíveis do que os filmes convencionais e requerem atenção especial no armazenamento e manuseio:
Proteção contra luz – A maioria dos filmes infravermelhos não possui uma camada antialo, o que os torna extremamente sensíveis à luz. Por isso, é essencial carregar e descarregar o filme em locais com pouca luz ou em um ambiente completamente escuro. Evite abrir a câmera antes de rebobinar completamente o filme.
Armazenamento adequado – Manter o filme refrigerado (entre 4-10°C) ajuda a preservar suas propriedades sensíveis à luz infravermelha. Se for armazenado por longos períodos, o congelamento pode prolongar sua vida útil, mas é necessário deixá-lo atingir a temperatura ambiente antes de usar.
Proteção contra calor – Altas temperaturas podem comprometer a emulsão do filme e causar perda de detalhes nas imagens. Evite expô-lo diretamente ao sol ou deixá-lo dentro da câmera por muito tempo em ambientes quentes.
Processo de revelação: químicas específicas e melhores práticas
A revelação do filme infravermelho segue princípios semelhantes à revelação de filmes preto e branco convencionais, mas algumas práticas podem melhorar o resultado final.
Químicas recomendadas – O uso de reveladores de grão fino, como o Kodak D-76, Ilford ID-11 ou Rodinal, ajuda a preservar detalhes e contrastes sem exagerar o grão. Para um efeito mais suave, reveladores como o XTOL podem ser uma boa opção.
Controle da temperatura – A revelação do filme infravermelho deve ser feita em temperatura controlada (geralmente entre 20-22°C) para evitar variações indesejadas na densidade da imagem.
Tempo de revelação – Cada marca de filme infravermelho pode exigir tempos específicos de revelação. Como alguns filmes podem reagir de forma diferente à luz infravermelha, recomenda-se testar diferentes tempos e diluições para obter o efeito desejado.
Fixação e lavagem – Após a revelação, o filme deve ser fixado e lavado adequadamente para evitar manchas e descoloração ao longo do tempo. O uso de um agente umectante, como Photoflo, ajuda a reduzir marcas d’água na secagem.
Digitalização e edição: como realçar os detalhes e tons na pós-produção
Depois que o filme infravermelho é revelado, a digitalização e edição podem aprimorar ainda mais os contrastes e efeitos visuais.
Escolha do scanner – Para preservar os detalhes da imagem, scanners dedicados de filmes, como o Epson V850 ou Nikon Coolscan, oferecem melhores resultados do que scanners flatbed comuns.
Configurações de digitalização – Digitalize em alta resolução (mínimo 2400 dpi) para capturar todos os detalhes e permitir uma edição mais precisa. Ajustar os níveis de preto e branco durante a digitalização pode ajudar a equilibrar os tons.
Edição e ajustes – Softwares como Adobe Photoshop e Lightroom permitem refinar o contraste, realçar áreas escuras e brancas e aplicar ajustes seletivos para enfatizar o efeito etéreo característico da fotografia infravermelha. O uso de curvas e ajustes tonais ajuda a equilibrar a imagem.
Conversão monocromática – Se o filme capturou alguma informação de cor, pode ser interessante convertê-lo para preto e branco puro para intensificar o impacto visual do infravermelho.
Ao seguir essas etapas, é possível transformar os negativos infravermelhos em imagens impressionantes, destacando o espectro invisível que essa técnica é capaz de revelar.
Dicas e Truques para Resultados Incríveis
A fotografia infravermelha com filme pode ser desafiadora, mas com algumas técnicas e experimentação, é possível obter imagens impressionantes. Pequenos ajustes na exposição, no uso de filtros e na escolha do filme podem fazer uma grande diferença no resultado final. Aqui estão algumas dicas essenciais para aprimorar suas fotos infravermelhas.
Como evitar erros comuns na exposição e no foco
A fotografia infravermelha exige um ajuste de exposição e foco diferente do convencional. Aqui estão alguns erros comuns e como evitá-los:
Erro: Exposição imprecisa – Como os fotômetros da câmera não são calibrados para a luz infravermelha, pode ser difícil obter a exposição correta.
Solução: Faça testes com bracketing (variação de exposição) para encontrar o tempo ideal. Uma boa regra geral é aumentar a exposição em 1 a 3 pontos (EV) em relação à medição padrão.
Erro: Foco incorreto – A luz infravermelha foca em um ponto ligeiramente diferente da luz visível, tornando o foco um desafio.
Solução: Se sua lente tem uma marca de foco para infravermelho, use-a para ajustar manualmente. Caso contrário, foque ligeiramente além do ponto normal para compensar o deslocamento.
Erro: Filme velado – Alguns filmes infravermelhos são extremamente sensíveis à luz e podem ser acidentalmente expostos antes da revelação.
Solução: Carregue e descarregue o filme em um ambiente com pouca luz e evite abrir a câmera sem rebobinar completamente o filme.
Testando diferentes tempos de exposição para efeitos variados
A fotografia infravermelha permite explorar diferentes tempos de exposição para criar efeitos únicos:
Exposições curtas (1/125s – 1/60s)
Ideal para capturar detalhes nítidos em cenas bem iluminadas.
Produz imagens mais contrastadas, com menos efeito etéreo.
Exposições médias (1/30s – 1s)
Equilíbrio entre nitidez e efeito suave.
Boa escolha para fotografar paisagens com vegetação intensa.
Exposições longas (acima de 1s)
Criam efeitos oníricos, principalmente quando há movimento em folhas e nuvens.
Necessário o uso de tripé para evitar trepidações indesejadas.
Para determinar o melhor tempo de exposição, experimente capturar a mesma cena com tempos variados e compare os resultados.
Combinação de filmes e filtros para explorar diferentes estéticas
A escolha do filme e do filtro influencia diretamente a aparência da fotografia infravermelha. Algumas combinações interessantes incluem:
Rollei Infrared 400 + Filtro R72 (720 nm)
Produz imagens com forte efeito infravermelho, onde a vegetação fica extremamente brilhante e o céu muito escuro.
Ilford SFX 200 + Filtro Vermelho Profundo (25A ou 29)
Gera um efeito infravermelho moderado, mantendo parte dos detalhes naturais da cena.
Kodak HIE + Filtro 87 (800 nm)
Criava um efeito extremamente dramático, com halos brilhantes ao redor das áreas claras. Como esse filme foi descontinuado, pode ser substituído por alternativas modernas com pós-processamento ajustado.
Foma Fomapan 400 + Filtro 89B (695 nm)
Uma opção experimental para quem deseja simular efeitos infravermelhos com um filme tradicional.
Testar diferentes combinações de filmes e filtros é uma ótima forma de descobrir novas possibilidades criativas e desenvolver um estilo único na fotografia infravermelha.
Exemplos de Fotógrafos e Trabalhos Inspiradores
A fotografia infravermelha tem sido explorada por diversos artistas ao longo dos anos, criando imagens surreais e impactantes. Desde o uso artístico até aplicações científicas e documentais, essa técnica revela um mundo invisível ao olho humano. Nesta seção, apresentamos alguns fotógrafos renomados que dominaram a arte da fotografia infravermelha e alguns de seus trabalhos mais icônicos.
A. Breve apresentação de fotógrafos renomados que utilizam a técnica
Richard Mosse
Um dos nomes mais famosos da fotografia infravermelha contemporânea, Mosse utiliza filme Kodak Aerochrome para registrar conflitos e paisagens devastadas pela guerra. Seu trabalho mais conhecido, Infra (2012), documenta a guerra na República Democrática do Congo, transformando cenários brutais em composições visualmente deslumbrantes, com vegetação em tons vibrantes de rosa e vermelho.
Simon Marsden
Conhecido por seu estilo gótico e atmosférico, Marsden capturou paisagens assombradas, castelos e ruínas utilizando filme infravermelho. Suas imagens possuem uma estética etérea e misteriosa, explorando o potencial dramático da luz infravermelha para criar atmosferas sobrenaturais.
Paolo Pettigiani
Um fotógrafo contemporâneo que usa infravermelho para transformar paisagens urbanas e naturais em composições vibrantes e psicodélicas. Seus projetos incluem séries coloridas de cidades como Veneza e Nova York, onde a vegetação assume tons irreais e contrastes intensos.
Edward Thompson
No ensaio The Unseen, Thompson usou filme infravermelho para explorar questões ambientais e de poluição, revelando fenômenos invisíveis a olho nu. Seu trabalho destaca como a fotografia infravermelha pode ser usada tanto artisticamente quanto para investigações científicas.
Imagens icônicas e como foram produzidas
“Infra” (2012) – Richard Mosse
Utilizando o filme Kodak Aerochrome, originalmente desenvolvido para detecção de vegetação e usos militares, Mosse criou uma série de imagens vibrantes onde florestas tropicais e campos de batalha aparecem em tons de rosa e vermelho. O efeito surreal gerado pelo infravermelho recontextualiza a guerra e questiona nossa percepção da violência.
Paisagens assombradas – Simon Marsden
Marsden usava filme infravermelho para capturar ruínas e castelos históricos, enfatizando texturas e criando halos fantasmagóricos ao redor das árvores e construções. Ele trabalhava frequentemente com exposição longa para acentuar o clima sobrenatural.
Cenários urbanos em infravermelho – Paolo Pettigiani
Suas imagens coloridas são capturadas com câmeras digitais convertidas para infravermelho, mas a estética pode ser replicada com filme e filtros adequados. O contraste entre a vegetação e a arquitetura moderna cria um visual futurista e imersivo.
“The Unseen” – Edward Thompson
Utilizando filme infravermelho para revelar poluição ambiental, Thompson documentou áreas afetadas por contaminação e mudanças climáticas, destacando aspectos invisíveis ao espectro visível.
Explorar o trabalho desses fotógrafos pode ser uma excelente fonte de inspiração para quem deseja aprofundar-se na fotografia infravermelha. Cada um desses artistas utilizou a técnica de maneira única, provando o potencial criativo e expressivo desse tipo de fotografia
recapitulando
Ao longo deste artigo, exploramos o fascinante mundo da fotografia infravermelha, desde os conceitos básicos sobre o espectro da luz até as técnicas e equipamentos necessários para capturar imagens surpreendentes. Vimos como essa abordagem pode transformar cenas comuns em composições etéreas e surreais, destacando um universo invisível a olho nu.
Se você ainda não experimentou a fotografia infravermelha, este pode ser o momento perfeito para começar! Com os equipamentos certos e um pouco de prática, você poderá criar imagens únicas e explorar uma nova forma de expressão artística