Em suma
Breve explicação sobre a fotografia infravermelha
A fotografia infravermelha é uma técnica que capta a luz além do espectro visível ao olho humano, registrando comprimentos de onda que variam aproximadamente entre 700 e 1200 nanômetros. Diferente da fotografia tradicional, que se baseia na luz visível, essa abordagem permite enxergar um mundo oculto, onde cores e contrastes são dramaticamente alterados. A luz infravermelha interage de maneira distinta com materiais e superfícies, criando efeitos visuais surpreendentes e muitas vezes surreais.
O que torna essa técnica única e fascinante?
O grande atrativo da fotografia infravermelha está na maneira peculiar como os elementos refletem essa luz invisível. Folhagens e vegetação, por exemplo, refletem intensamente a radiação infravermelha, resultando em um efeito conhecido como “Wood Effect”, que deixa as plantas com tons esbranquiçados ou prateados. Já o céu e a água absorvem grande parte dessa radiação, tornando-se escuros e misteriosos. Esse contraste dramático transforma cenas comuns em imagens etéreas e de forte impacto visual, com uma estética que remete a paisagens de outro planeta. Além de seu valor artístico, a fotografia infravermelha também é amplamente utilizada em aplicações científicas, como estudos ambientais, arqueologia e segurança.
Introdução ao uso de filmes infravermelhos para capturar esse espectro
Embora hoje existam câmeras digitais adaptadas para captar a luz infravermelha, o uso de filmes infravermelhos continua sendo uma opção fascinante para os amantes da fotografia analógica. Diferente dos sensores digitais, que podem ser modificados para essa finalidade, os filmes infravermelhos possuem uma emulsão sensível a esse espectro, permitindo resultados mais orgânicos e imprevisíveis. Para fotografar com esse tipo de filme, é necessário utilizar filtros específicos que bloqueiam a luz visível e deixam passar apenas a radiação infravermelha. Além disso, ajustes precisos na exposição e no foco são essenciais, já que a luz infravermelha se comporta de maneira diferente da luz comum.
Neste artigo, exploraremos todos os aspectos dessa técnica, desde a escolha dos equipamentos até o processo de revelação e edição, para que você possa capturar imagens impressionantes nesse outro espectro de luz.
O que é a Fotografia Infravermelha?
Diferença entre espectro visível e infravermelho
A luz visível é apenas uma pequena parte do espectro eletromagnético, abrangendo comprimentos de onda entre aproximadamente 400 e 700 nanômetros (nm). Nossos olhos são capazes de perceber essa faixa, resultando nas cores que conhecemos no dia a dia. Já a luz infravermelha se estende além do vermelho visível, a partir de 700 nm, e pode chegar até 1 mm no espectro eletromagnético.
Na fotografia infravermelha, capturamos um pedaço desse espectro próximo, chamado de infravermelho próximo (NIR – Near Infrared), que vai de 700 a 1200 nm. Esse tipo de luz interage de maneira diferente com os objetos: folhas e vegetação refletem grandes quantidades de infravermelho, enquanto o céu e a água o absorvem, resultando em contrastes impressionantes e uma aparência etérea nas imagens.
Como os filmes infravermelhos registram a luz além do alcance humano
Os filmes infravermelhos possuem emulsões fotossensíveis especialmente formuladas para reagir não apenas à luz visível, mas também à radiação infravermelha próxima. Para capturar esse espectro com precisão, normalmente se utiliza um filtro infravermelho, que bloqueia quase toda a luz visível e permite apenas a passagem da luz infravermelha.
Diferente dos sensores digitais, que podem ser modificados para registrar o infravermelho removendo o filtro de bloqueio interno, os filmes analógicos infravermelhos oferecem uma resposta única à luz, gerando tons e texturas que variam conforme a exposição e os materiais fotografados. Isso resulta em imagens com um caráter orgânico, muitas vezes com halos suaves ao redor das áreas brilhantes e um grão característico que reforça o aspecto onírico das fotos.
Exemplos de aplicações artísticas e científicas
A fotografia infravermelha tem sido amplamente utilizada tanto na arte quanto na ciência, devido à sua capacidade de revelar detalhes invisíveis no espectro visível. Algumas das principais aplicações incluem:
Fotografia artística: Muitos fotógrafos exploram o infravermelho para criar paisagens surreais e retratos com tons inusitados, conferindo um efeito etéreo e misterioso às imagens.
Paisagens e natureza: A vegetação adquire tons esbranquiçados ou prateados, criando composições cinematográficas e diferenciadas.
Retratos criativos: A pele humana reflete a luz infravermelha de maneira singular, suavizando imperfeições e gerando um efeito quase translúcido.
Monitoramento ambiental: O infravermelho é usado para avaliar a saúde da vegetação, já que plantas saudáveis refletem mais radiação infravermelha do que plantas doentes ou secas.
Arqueologia: Auxilia na identificação de estruturas soterradas ou camufladas pela vegetação, já que diferentes materiais refletem infravermelho de maneiras distintas.
Medicina e segurança: A fotografia infravermelha tem aplicações em exames médicos e em investigações forenses, ajudando a detectar alterações na pele e até mesmo falsificações em documentos.
Com essa combinação de aplicações técnicas e criativas, a fotografia infravermelha continua sendo uma ferramenta poderosa para revelar o invisível e expandir os limites da percepção visual.
Equipamentos Necessários
A fotografia infravermelha com filme exige equipamentos específicos para garantir resultados autênticos e de alta qualidade. Desde a escolha da câmera até o tipo de filme e filtros, cada detalhe influencia diretamente no efeito final da imagem. A seguir, exploramos os principais itens necessários para começar a fotografar nesse espectro invisível.
Câmeras compatíveis: modelos analógicos e possíveis adaptações
Nem todas as câmeras analógicas são adequadas para filmes infravermelhos, pois algumas possuem revestimentos internos ou sensores de luz que podem interferir na captação do espectro infravermelho. Aqui estão algumas opções viáveis:
Câmeras SLR e Rangefinder: Modelos como a Nikon F3, Canon AE-1, Pentax K1000 e Leica M6 são ótimas escolhas, pois oferecem controle manual total da exposição e permitem o uso de filtros infravermelhos.
Médio e grande formato: Para quem busca maior qualidade de imagem e detalhes aprimorados, câmeras como a Mamiya RB67, Hasselblad 500CM e a linhagem Graflex de grande formato são alternativas viáveis.
Cuidado com sensores DX em câmeras eletrônicas: Algumas câmeras analógicas modernas possuem sensores de detecção de rolo (DX coding) que emitem pequenas quantidades de luz, o que pode velar o filme infravermelho. Modelos mais antigos, sem essa tecnologia, costumam ser mais seguros.
Filmes infravermelhos: marcas populares e características
Os filmes infravermelhos possuem emulsões sensíveis ao espectro além da luz visível, permitindo capturar a radiação infravermelha. Algumas das opções mais conhecidas incluem:
Rollei Infrared 400 – Um dos filmes infravermelhos mais acessíveis, possui alta sensibilidade (ISO 400) e excelente resposta ao uso de filtros IR. Ideal para iniciantes na técnica.
Ilford SFX 200 – Embora não seja um infravermelho “puro”, esse filme possui sensibilidade estendida ao infravermelho próximo e pode produzir efeitos semelhantes ao usar filtros IR moderados.
Kodak HIE (descontinuado) – Um dos filmes infravermelhos mais icônicos, famoso pelo seu grão característico e halo difuso ao redor de áreas brilhantes. Ainda pode ser encontrado em estoques antigos, mas com preços elevados.
Foma Fomapan 400 com filtro IR – Embora não seja um filme infravermelho dedicado, ele pode responder parcialmente à luz infravermelha com o uso de um filtro adequado.
Filtros infravermelhos: tipos e como afetam a captação da imagem
Os filtros infravermelhos bloqueiam quase toda a luz visível e deixam passar apenas a radiação infravermelha, sendo essenciais para maximizar os efeitos dessa técnica. Os principais tipos incluem:
Filtro R72 (720 nm) – O mais comum para fotografia infravermelha, bloqueia a luz abaixo de 720 nanômetros e permite um forte efeito IR.
Filtro 89B (695 nm) – Um pouco menos restritivo, ainda mantém a estética infravermelha, mas pode deixar alguns tons visíveis.
Filtro 87 (800+ nm) – Bloqueia totalmente a luz visível e capta apenas a luz infravermelha mais profunda, resultando em imagens ainda mais etéreas.
Filtro Vermelho Profundo (25A ou 29) – Embora não seja um filtro infravermelho puro, realça o efeito IR em filmes parcialmente sensíveis ao infravermelho, como o Ilford SFX 200.
Acessórios úteis: tripé, fotômetro e cuidados com o manuseio do filme
Além da câmera, do filme e do filtro adequado, alguns acessórios ajudam a obter melhores resultados na fotografia infravermelha:
Tripé – Como a fotografia infravermelha exige tempos de exposição mais longos devido à menor quantidade de luz disponível, um tripé firme é essencial para evitar tremores.
Fotômetro manual – Muitos fotômetros internos das câmeras não são calibrados para o espectro infravermelho, então um fotômetro manual pode ser útil para obter medições mais precisas.
Carregamento e armazenamento do filme – Os filmes infravermelhos são extremamente sensíveis à luz. É recomendável carregá-los e descarregá-los em locais com pouca luz ou, idealmente, em um ambiente escuro.
Foco ajustado para IR – Como a luz infravermelha foca em um ponto ligeiramente diferente da luz visível, algumas lentes possuem marcações de compensação para foco infravermelho. Caso sua lente não tenha essa indicação, pode ser necessário realizar pequenos ajustes no foco manualmente.
Com esses equipamentos e acessórios em mãos, você estará pronto para explorar a fotografia infravermelha analógica e capturar imagens impressionantes em um espectro invisível ao olho humano
Como Fotografar com Filme Infravermelho
A fotografia com filme infravermelho exige um entendimento específico sobre equipamentos, configurações da câmera e as condições ideais de luz. Diferente da fotografia tradicional, onde a exposição é baseada no espectro visível, a captação do infravermelho envolve ajustes únicos para garantir imagens bem definidas e com o impacto visual característico dessa técnica.
Escolha do filme: vantagens e desvantagens de diferentes marcas
Escolher o filme certo é essencial para obter os melhores resultados. Cada marca e modelo possui características distintas de sensibilidade ao infravermelho, contraste e grão.
Rollei Infrared 400
Vantagens: Sensibilidade relativamente alta (ISO 400), bom contraste e flexibilidade em diferentes condições de luz.
Desvantagens: Pode exigir ajustes na exposição devido à variação da sensibilidade ao IR.
Ilford SFX 200
Vantagens: Filme pancromático com resposta estendida ao infravermelho, ideal para quem deseja um efeito IR moderado sem precisar de um filtro muito escuro.
Desvantagens: O efeito infravermelho é mais sutil em comparação com outros filmes IR puros.
Kodak HIE (descontinuado, mas ainda encontrado)
Vantagens: Efeito IR forte, grão característico e o famoso “halo” em áreas brilhantes.
Desvantagens: Muito sensível, sem camada antialo, difícil de manusear e caro devido à descontinuação.
Foma Fomapan 400 (com filtro IR)
Vantagens: Alternativa econômica para experimentar o efeito IR usando um filtro vermelho profundo.
Desvantagens: Não é um filme infravermelho puro, então o efeito será menos pronunciado.
Configurações da câmera: abertura, velocidade do obturador e foco
Ao fotografar com filme infravermelho, os parâmetros da câmera precisam ser ajustados para compensar a forma como a luz infravermelha interage com a emulsão do filme.
Abertura: Recomenda-se usar uma abertura média a pequena (f/5.6 a f/11) para garantir boa profundidade de campo, já que a luz infravermelha foca de maneira diferente da luz visível.
Velocidade do obturador: Como os filtros IR bloqueiam parte da luz visível, a exposição será mais longa do que na fotografia tradicional. Dependendo do filtro, podem ser necessários tempos de exposição entre 1/60s e vários segundos, exigindo o uso de tripé.
Foco: A luz infravermelha foca em um ponto ligeiramente diferente da luz visível. Algumas lentes possuem marcações específicas para o ajuste do foco IR. Caso sua lente não tenha essa indicação, é necessário fazer pequenos ajustes manuais, geralmente focando um pouco além do ponto de foco tradicional.